ITAPAJÉ | bordadeiras

Objetos de desejo saem da agulha

Pássaros, flores, sol, noites estreladas... A natureza é o elemento inspirador das bordadeiras de Itapajé, onde 80% das mulheres conhecem o ofício

A cidade é considerada a Capital Cearense do Bordado, com trabalhos que primam pela qualidade e beleza e viram objetos de desejo. Contam as bordadeiras mais antigas que o ofício chegou a Itapajé na época do domínio português no Brasil, pelas mãos de freiras que foram habitar ordens religiosas na cidade. As sertanejas logo ´pegaram o jeito´ e transformaram o bordado em arte, produzindo peças para casa, mesa, banho e decoração. Com o tempo, só aprimoraram o aprendizado. Viraram artesãs sem igual.

Até a década de 60 do século passado, o bordado não se constituía em fonte de renda. Alguém descobriu o filão e as vendas começaram. O ofício progrediu e virou referência no Ceará, com especialidades e peculiaridades singulares. Há quem diga que os bordados de Itapajé são verdadeiras poesias visuais, tamanho o encantamento que produzem.

As bordadeiras estão em cada canto de Itapajé. Na sede e distritos, asseguram sua sobrevivência e da família com a tradição passada de geração a geração. O último censo mostrou que já são quase a metade da força de trabalho. Assim, é comum o vaivém das artesãs pela cidade e peças lavadas e postas para secar defronte as casas, numa exposição informal.

A força de trabalho se transmuta em beleza delicada e enreda como um labirinto a quem aprecia o trabalho. As criações são individuais ou coletivas, mas, o resultado final é sempre harmonioso. Não há preocupação com a autoria. Todos pensam coletivamente.

À mão ou à máquina, o trabalho é feito em relevo, sobre estofo ou pano, que pode ser linho, atoalhado, percalene ou brim. O primeiro passo é o risco da imagem desejada, uma antevisão do composto. Começa o lá e cá das linhas e a manipulação de um arsenal de objetos, como agulhas, dedais e pequenas tesouras.

Tem o ponto aberto, de alinhavo, cheio, de areia, corrente, cordão, simples, sombra, miolote, moranguinho, ponto de cruz... O elemento improviso está sempre presente no lavor das bordadeiras.

E eis que vão surgindo os desenhos na alvura da cambraia, flores brotam no bramante numa dança visual de elementos geométricos. A qualidade é medida pelo acabamento. Dai, o arremate ser essencial. O bordado ganha forma final. Emerge mais uma obra-prima.

Hoje, o grande ponto de venda do bordado em Itapajé é a Praça do Jauro, no Centro. A Feira dos Bordados acontece aos sábados. As artesãs chegam cedo e ocupam o espaço. Há peças prontas ou apenas em desenho para comercialização, mas o local não é adequado, além de reduzido para a atividade. Não há proteção contra o sol e a chuva para as artesãs e compradores.

Lojas espalhadas pela cidade também vendem bordado, mas é inconteste a carência de espaço para exposição e venda da arte das artesãs de Itapajé. 

Showroom da arte em bordado

Dentre tantos cantinhos de criação em Itapajé, o bairro Barateiro mais parece um showroom do bordado, onde atuam mulheres idosas e jovens. Homens também participam da atividade, mas trabalhando no acabamento, o arremate das peças.

O Grupo de Mulheres Artesãs do Barateiro aglutina 38 bordadeiras. Três homens respondem pelo acabamento. A bordadeira Francisca Rodrigues preside a entidade. Ela conta que o bordado do Barateiro vinha sofrendo com a falta de qualidade e a mesmice. Era preciso revitalizar a atividade.

Unidas, as bordadeiras do lugar buscaram apoio do poder público e passaram por capacitação. O bordado começou a viver uma nova fase, um tempo de inovação. Foram criados novos motivos a partir de padrões antigos, da mistura de elementos. Surgiu o richelieu na flor de flamboyant, o bordado com fitas e sianinha...

´E continuamos inovando. A gente não copia e sim cria, tomando a natureza como inspiração´, reitera Francisca Rodrigues. Ela lembra que tudo que é produzido no Barateiro visa a comercialização, para gerar renda. São peças para cama, mesa, banho, decoração. A personalização fica a gosto do cliente. Basta pedir.

No Barateiro, as redes bordadas são um show à parte. A serventia original abre espaço para a decoração de ambientes, simples ou requintados. As peças variam de R$ 2,00 a R$ 80,00, dependendo do tamanho. Redes e colchas bordadas custam mais. Uma novidade ali é o emprego do bordado em comunhão com lã, garrafas pet e cabaças. O comércio acontece no próprio bairro, nas residências ou na Barraca do Grupo de Mulheres Artesãs do Barateiro, junto à BR-222. Outro ponto de venda são as feiras itinerantes pelo município, eventos em cidades vizinhas e a Feira dos Bordados, aos sábados, na Praça do Jauro, Centro de Itapajé.

As bordadeiras do Barateiro se alegram em saber que sua arte já chegou a todo o Ceará e seu talento é reconhecido em todo o País e até no exterior, mas as vendas poderiam ser bem maiores. Exportar grande quantidade de peças para outros Estados e, sobretudo, para o exterior ainda é um sonho.

´Podemos atender grandes pedidos, mas eles não chegam´, conta a bordadeira Rosa Maria, que atua no Barateiro. Falta apoio oficial, sobretudo para divulgação da arte das bordadeiras. Com as exportações, a renda auferida daria um salto, melhorando a vida das artesãs e da sua gente, como elas costumam dizer. 

SAIBA MAIS

Itapajé fica na região Norte do Estado, a 125 quilômetros de Fortaleza.

Como chegar:

De carro - A partir de Fortaleza, acesso pela rodovia BR-222

De ônibus - As empresas Litorânea (3256.4483) e Guanabara (4005.1992) ligam Fortaleza a Itapajé

Artesanato:

Grupo de Bordadeiras do Barateiro - 3346.0871/3343.1426

Casa do Artesanato de Itapajé (Iratinga) - 3346.0061

Grupo Itaguaí - Distrito de Aguaí - 3346.0061/9942.0200/9661.755

Associação das Bordadeiras Artesanais de Itapajé (Abai) - 3346.2428

Casa do Artesanato - (85) 9901.2005/2008

Culinária Regional:

Churrascaria Brasão - 3346.0318

Churrascaria Braseiros - 3346.1267

Paçoca (Dona Maria Sou Eu) - 3346.1477

Paçoca (Dona Djanira) - 3346-0241

Casa do Queijo - 3346-1668/4545

Código DDD: 85.

Fonte: Diario do Nordeste